Introdução
O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é uma condição cada vez mais discutida nos consultórios, escolas e famílias. Mas como a psicanálise compreende esse transtorno? Ao contrário de abordagens meramente neurobiológicas, a psicanálise oferece um olhar clínico profundo, que busca entender o sujeito para além de seus sintomas.
Neste artigo, vamos analisar o TDAH sob a perspectiva psicanalítica, abordando suas manifestações, diagnóstico, questões estruturais, alternativas terapêuticas e caminhos de escuta para compreender esse fenômeno tão presente na clínica contemporânea.
O que é TDAH? Um Panorama Atual
O TDAH é um transtorno neurocomportamental que se manifesta através de três conjuntos principais de sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Em diferentes graus, ele pode afetar tanto crianças quanto adultos, influenciando diretamente a vida escolar, profissional e afetiva do sujeito.
Estudos indicam que entre 3% e 5% da população mundial é diagnosticada com o transtorno. No entanto, cada vez mais surgem questionamentos sobre excessos diagnósticos e medicalização precoce, especialmente em contextos escolares.
A pergunta que ecoa é: o TDAH é um transtorno cerebral ou um sintoma que expressa conflitos psíquicos mais profundos?
TDAH e Psicanálise: Uma Perspectiva Diferenciada
A psicanálise não considera o sujeito como um “portador de transtornos”, mas como alguém que manifesta através do sintoma um discurso inconsciente. Isso muda completamente a abordagem.
Enquanto a psiquiatria tradicional tende a enquadrar o TDAH dentro de manuais diagnósticos como o DSM-5, a psicanálise busca escutar o que esse sintoma quer dizer, considerando a história subjetiva de cada indivíduo.
“O sintoma não é algo a ser eliminado, mas decifrado.” – Jacques Lacan
Essa escuta permite entender como o TDAH pode estar ligado a questões estruturais, como a neurose, a psicose ou a perversão. Ou seja, não se trata apenas de falta de foco ou agitação, mas de um sujeito tentando se organizar frente às demandas internas e externas.
Sintomas TDAH: O Que Eles Revelam Segundo a Psicanálise
1. Desatenção e Fuga do Desejo
Na perspectiva psicanalítica, a desatenção pode ser lida como uma fuga do desejo do Outro, um modo de não se implicar com determinadas exigências simbólicas.
2. Impulsividade como Ato Falho
A impulsividade pode ser interpretada como um ato falho do inconsciente, uma tentativa do sujeito de se fazer presente em um ambiente onde se sente alheio ou invisível.
3. Hiperatividade e Excesso de Gozo
A hiperatividade pode se relacionar ao que Lacan chama de “gozo fora da lei” – um excesso que denuncia uma organização psíquica marcada por um Real que não cessa de se impor.
Neurodivergência e Psicanálise: Conflito ou Complemento?
O termo neurodivergência tem ganhado espaço nos debates contemporâneos. Ele propõe que condições como TDAH, autismo e dislexia não são patologias, mas formas distintas de funcionamento neurológico.
A psicanálise pode dialogar com esse conceito desde que não se perca a singularidade do sujeito. O risco é transformar o diagnóstico em rótulo identitário, apagando o que há de mais singular no sofrimento de cada um.
Diagnóstico de TDAH: Excesso de Etiquetas?
O diagnóstico de TDAH, embora necessário em muitos casos, tem sido inflacionado. A pressa em nomear o comportamento como transtorno muitas vezes ignora o contexto afetivo e familiar da criança.
Em vários casos, o que aparece como TDAH é apenas um pedido de escuta. Uma inquietação diante de uma realidade que não oferece espaço para a subjetividade.
Recomendamos a leitura do artigo: Os sintomas da ansiedade segundo a psicanálise para aprofundar como sintomas revelam conflitos inconscientes.
O Lugar da Psicoterapia no TDAH
A psicoterapia psicanalítica não pretende “curar” o TDAH, mas abrir espaço para que o sujeito possa se posicionar frente ao seu sintoma.
É na escuta do inconsciente que emergem elementos fundamentais para entender de onde vem a desatenção, a agitação, a dificuldade de concentração.
Medicamentos para TDAH: Necessidade ou Silenciamento?
O uso de medicamentos estimulantes é comum no tratamento do TDAH. No entanto, a psicanálise adverte sobre o risco da medicalização sem escuta, onde o sintoma é silenciado antes mesmo de ser compreendido.
O medicamento pode ser útil, mas deve ser parte de uma abordagem integrada, e não a única resposta. O foco deve ser no sujeito, e não apenas em seus comportamentos.
Tratamento Natural para TDAH: É Possível?
Práticas como meditação, atividades físicas e terapias alternativas têm se mostrado eficazes como complemento ao tratamento tradicional. O mais importante é não desconsiderar a escuta subjetiva.
Afinal, cada sujeito vive seu sintoma de forma única.
Escutando o Sujeito: A Função do Psicanalista no TDAH
O papel do psicanalista não é organizar a agenda da criança ou do adulto com TDAH, mas escutar o que se manifesta através do sintoma. É nessa escuta que emerge algo do inconsciente que permite uma nova relação com o tempo, o desejo e o Outro.
Como mostra o vídeo “Entendendo o TDAH na clínica”, o TDAH pode ser um modo de existência, não um erro a ser corrigido.
Considerações Finais
O TDAH não deve ser reduzido a um conjunto de sintomas ou a um código no CID-10. Sob a luz da psicanálise, ele é um modo de expressar o mal-estar do sujeito na contemporaneidade.
Ao abrir espaço para a escuta, para o desejo, para o conflito, a psicanálise possibilita um tratamento que respeita a singularidade, em vez de apenas calar os sintomas.