Introdução
A psicanálise e o narcisismo contemporâneo se entrelaçam de forma intensa no cenário atual, revelando o impacto da cultura da imagem sobre a subjetividade humana. O filme A Substância (2023) escancara essa tensão ao mostrar como o ego se fragiliza diante do envelhecimento, da exclusão e da busca por validação externa. A análise do psicanalista Orlando Marçal revela como a obra serve como espelho simbólico de uma sociedade que prefere a ilusão à realidade.
Psicanálise e narcisismo contemporâneo: o ego em colapso
Freud, em Inibição, Sintoma e Angústia (1926), afirma que o ego é constantemente tensionado por três forças: a realidade externa, os desejos inconscientes e os valores internalizados. Quando essas forças entram em conflito, o ego tenta encontrar uma saída. Essa saída, muitas vezes, é a formação de um sintoma.
No filme, Elizabeth representa esse ego em crise: pressionada pelo envelhecimento, pela perda de status e pela impossibilidade de sustentar sua imagem ideal, ela se fragmenta. Surge então a “substância”, um recurso externo que promete devolver juventude e beleza – mas ao custo de sua própria subjetividade.
O duplo e a ilusão na psicanálise e narcisismo contemporâneo
O conceito de “duplo” já foi explorado por Freud em textos como O Inquietante. Quando Elizabeth vê sua versão rejuvenescida – a Su –, ela passa a habitar um mundo de ilusão. Ao invés de confrontar o real, projeta sua angústia em uma versão idealizada de si mesma.
Essa dissociação representa o narcisismo contemporâneo em sua forma mais crua: a recusa do envelhecimento, a negação da finitude e a dependência do olhar do outro para existir. A psicanálise denuncia esse mecanismo como uma forma de repressão – aquilo que é recalcado retorna com força, geralmente como sintoma.
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Narcisismo e redes sociais: sintomas do ego moderno
A crítica não se limita ao filme: ela se estende à realidade. As redes sociais hoje amplificam esse narcisismo contemporâneo, promovendo filtros, harmonizações faciais e uma cultura da perfeição inatingível. O que deveria ser expressão estética torna-se prisão simbólica.
Como foi pontuado na live, vivemos em uma sociedade onde o ego ideal se sobrepõe ao self autêntico. Tudo precisa ser visto, validado e aplaudido. O problema não é mais ser, mas parecer.
O sintoma como parasita: efeitos do narcisismo e da repressão
Na tentativa de se libertar de sua angústia, Elizabeth destrói Su. No entanto, ao eliminar seu duplo, ela destrói a si mesma. Essa cena resume o que Freud já alertava: o sintoma, se não elaborado, torna-se um parasita que consome o sujeito.
A “cura” mágica promovida pela substância é uma ilusão. O verdadeiro problema não era o envelhecimento ou o desemprego, mas a não aceitação de sua condição real. A repressão retorna como monstruosidade, o espelho revela a feiura interior que nenhuma maquiagem encobre.
O olhar da psicanálise sobre o narcisismo contemporâneo
O processo terapêutico, segundo a psicanálise, não consiste em eliminar sintomas, mas em escutar o que eles têm a dizer. O filme escancara o que acontece quando o sujeito se recusa a fazer esse trabalho: o sintoma ganha vida própria.
Para que a análise aconteça, é necessário implicar-se, reconhecer-se no espelho, mesmo que este revele rugas, marcas e angústias. Como disse Lacan, o real é insuportável – mas é nele que a cura pode se dar.
Conclusão: psicanálise, narcisismo e o espelho contemporâneo
A Substância não é apenas um filme sobre vaidade ou procedimentos estéticos. É uma denúncia profunda da fragilidade do ego moderno, de uma sociedade que valoriza mais a imagem do que o ser. A psicanálise e o narcisismo contemporâneo formam uma lente crítica que revela como o sujeito se perde ao tentar se ver apenas pelo olhar do outro.
Se você se interessou por esse olhar, assista à live completa no canal do Orlando Marçal e mergulhe ainda mais fundo nessa discussão psíquica e social.
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