A menopausa é uma fase natural da vida da mulher, marcada por profundas transformações hormonais, emocionais e psíquicas. Mas uma dúvida ainda paira sobre muitas mulheres: é possível sentir prazer na menopausa? A resposta é sim. Neste artigo, vamos explorar como redescobrir a sexualidade após os 50, quebrar tabus e compreender, com o apoio da psicanálise, que o prazer continua sendo parte essencial da vida.
O que muda na sexualidade durante a menopausa?
Durante a menopausa, a queda dos níveis de estrogênio e progesterona pode afetar a lubrificação vaginal, a sensibilidade e o desejo sexual. Mas é importante reforçar: isso não significa que o prazer desaparece — ele apenas se transforma.
A psicanálise nos ajuda a entender que o desejo é multifacetado. Ele não reside apenas na resposta fisiológica, mas também na forma como o sujeito se relaciona com seu corpo, com o outro e com sua história. O prazer na menopausa, portanto, passa por uma reinterpretação subjetiva do desejo.
Mudanças fisiológicas e percepções internas
A percepção que a mulher tem de si mesma é fundamental nesse processo. A experiência psicanalítica mostra que a forma como a mulher se posiciona frente ao seu corpo em transformação pode influenciar diretamente sua vivência do prazer.
Os impactos da autoestima e da saúde emocional
A menopausa pode desencadear inseguranças com relação à imagem corporal, à feminilidade e ao valor pessoal. A libido, muitas vezes, é atravessada por questões emocionais mais profundas do que simplesmente hormonais.
A psicanálise, ao considerar o inconsciente, oferece ferramentas para acessar os conflitos internos que afetam o desejo. Muitas mulheres, ao iniciarem um processo terapêutico, percebem que suas dificuldades com a sexualidade estão ligadas a narrativas antigas, repressões e culpas enraizadas.
Cultivar o autoconhecimento, ressignificar traumas e desconstruir mitos sobre o envelhecimento feminino pode ser o caminho para um reencontro com o prazer.
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Dados de pesquisa sobre menopausa e sexualidade
De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of the North American Menopause Society, cerca de 52% das mulheres entre 45 e 65 anos relatam alguma forma de disfunção sexual durante a menopausa. No entanto, outras pesquisas indicam que mais de 60% dessas mulheres continuam a ter vida sexual ativa e prazerosa, especialmente quando contam com apoio emocional e acompanhamento profissional.
Além disso, estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa da Saúde Feminina no Brasil mostram que 67% das mulheres afirmam sentir-se mais livres sexualmente após os 50 anos, quando se livram da pressão da fertilidade e ganham mais autoconfiança.
Terapias e alternativas que ajudam a redescobrir o prazer
- Terapia hormonal (com orientação médica especializada)
- Lubrificantes íntimos e hidratantes vaginais
- Fisioterapia pélvica
- Terapia sexual ou psicanálise
- Diálogo com o(a) parceiro(a) sobre desejos e mudanças
- Autocuidado como prática regular
Cada mulher é singular em sua experiência com a sexualidade. A escuta psicanalítica permite acolher essa singularidade, sem idealizações ou cobranças. O prazer pode ser redescoberto pela atenção ao corpo e à mente.
Estudos de caso: a escuta clínica na prática
Caso 1: Marta, 54 anos — O retorno do desejo
Marta chegou ao consultório relatando ausência total de libido, sem prazer na menopausa. Após alguns meses de análise, revelou sentimentos antigos de inadequação ligados à educação repressora que teve. Ao trabalhar essas memórias e reconstruir sua relação com o próprio corpo, Marta conseguiu resgatar sua autonomia sexual e passou a se permitir novas experiências.
Caso 2: Neusa, 59 anos — O corpo como inimigo
Neusa sentia vergonha do corpo envelhecido. Sua experiência sexual era marcada pela autoimagem negativa. Com o avanço da terapia, ela passou a enxergar o corpo como território de prazer e história. Começou a praticar exercícios físicos, investir em autocuidado e se permitir viver um novo relacionamento afetivo.
Caso 3: Regina, 61 anos — Prazer sem penetração
Regina acreditava que o sexo havia terminado porque sentia dor na relação. Ao entender que prazer não se limita à penetração, redescobriu novas formas de contato e intimidade. Com uso de lubrificantes, diálogo com o parceiro e sessões de fisioterapia pélvica, sua vivência sexual tornou-se mais rica e satisfatória.
Feminilidade e desejo na maturidade
A construção da feminilidade ao longo da vida é atravessada por normas sociais, padrões estéticos e repressões históricas. A menopausa, por sua vez, pode ser vista como um marco simbólico que desafia essas convenções. Em vez de representar o fim da sexualidade, ela pode ser o início de um novo ciclo de liberdade.
Na psicanálise, o desejo feminino é concebido como algo que resiste às normativas e se reinventa nas entrelinhas da linguagem. O corpo da mulher madura carrega história, potência e significação. Ao abandonar o ideal de juventude eterna, muitas mulheres se reconectam com sua essência mais genuína e passam a viver uma sexualidade mais consciente e autêntica.
A leitura do livro “Por que tenho Dedo Podre” aprofunda essa temática sobre relacionamentos, oferecendo uma visão sensível e transformadora sobre o feminino contemporâneo.
Sexualidade é autoconhecimento em qualquer idade
A ideia de que a vida sexual termina após os 50 anos é um mito que precisa ser desconstruído. Na maturidade, muitas mulheres encontram uma nova liberdade, livres de cobranças externas, redescobrindo seus desejos de forma autônoma.
Na visão psicanalítica, o desejo é estruturante do sujeito. Não se trata apenas de uma função biológica, mas de uma construção simbólica. Quando a mulher entra em contato com esse desejo, independente da idade, ela pode viver uma sexualidade autêntica e potente.
Conclusão
Sim, é totalmente possível sentir prazer na menopausa. Esse momento pode ser uma fase de ressignificação e redescoberta. O corpo muda, mas o desejo permanece vivo e pulsante. Com acolhimento, escuta e liberdade, a mulher pode encontrar formas mais profundas e genuínas de prazer.
A psicanálise oferece um espaço privilegiado para essa escuta e para a elaboração das mudanças. Mais do que tratar sintomas, trata-se de abrir caminhos para o desejo florescer, em qualquer fase da vida.
Se você está vivendo a menopausa e deseja compreender melhor seus desejos, procure um(a) psicanalista. O autoconhecimento é o primeiro passo para uma vida mais plena e prazerosa.