Função simbólica dos sonhos na psicanálise é um dos temas mais fascinantes para quem estuda o inconsciente. Desde Freud, o sonho não é mais visto como algo aleatório ou sem sentido. Pelo contrário, ele se tornou a via privilegiada para acessar o que foi recalcado, deslocado ou condensado no psiquismo.
Este artigo convida estudantes e profissionais da psicologia a irem além da busca por “significados prontos”. Em vez disso, vamos compreender o sonho como forma de linguagem e de construção simbólica, reveladora dos desejos, fantasias e impasses inconscientes do sujeito. Para uma introdução sobre a perspectiva freudiana dos sonhos, recomendamos o artigo Significado dos Sonhos segundo Freud.
Por que sonhamos e qual a função simbólica?
Para a psicanálise, o sonho é um produto do inconsciente. Freud o define como uma realização disfarçada de desejo. Ou seja, não sonhamos por acaso: o sonho é uma forma pela qual o psiquismo busca expressar, de forma velada, aquilo que não pode ser dito diretamente.
Se o inconsciente é estruturado como uma linguagem, como disse Lacan, então o sonho é um discurso. Um discurso simbólico, repleto de figuras, imagens, ruídos e silêncios. Além disso, é uma forma de trabalhar aquilo que o sujeito não consegue nomear na vigília. Por isso, sonhar é uma atividade psíquica essencial.
A função simbólica dos sonhos na clínica psicanalítica
Na prática psicanalítica, escutar um sonho é escutar a verdade do sujeito em sua forma mais crua. O sonho revela aquilo que foi recalcado, aquilo que retorna travestido. O conteúdo manifesto (a narrativa do sonho) importa, mas não isoladamente. O que deve ser escutado com atenção é o conteúdo latente: os significantes que se associam, os deslocamentos que produzem sentido.
A função simbólica do sonho, portanto, é dupla:
- Produzir sentido simbólico a partir de vivências inconscientes.
- Permitir a elaboração psíquica de impasses que, quando não simbolizados, adoecem o sujeito.
No canal do Instituto Marçal no YouTube, há diversos vídeos que aprofundam esse tipo de escuta clínica e sua importância para o trabalho analítico. Por isso, é fundamental incluir o sonho como ferramenta na clínica. Além disso, essa prática amplia o campo da escuta e fortalece o processo analítico.
Sonho, desejo e sintoma: conexões clínicas essenciais
Muitas vezes, um sintoma aparece na análise acompanhado de um sonho. E isso não ocorre por acaso. O sintoma constitui uma forma de dizer algo que o sujeito não consegue simbolizar. O sonho também. Ambos expressam o inconsciente e compartilham a lógica do retorno do recalcado.
Dessa forma, ao escutar sonhos, o analista permanece atento não ao sentido fechado, mas às cadeias de associações que o paciente produz. O que aquela imagem onírica evoca? Qual é o afeto ali escondido? Que desejo tenta se dizer? Essas perguntas direcionam a escuta analítica.
Elaboração e sobrevivência psíquica através do sonho
Em tempos de sofrimento intenso, é comum que os sonhos se tornem mais frequentes ou mais marcantes. Isso acontece porque o sonho funciona também como uma tentativa de elaboração psíquica.
Quando um trauma não pode ser simbolizado, o sonho tenta transformar aquilo em imagem, em história, em sequência. Mesmo que de forma fragmentada ou perturbadora, ele busca narrar o que ainda não encontrou palavra.
Além disso, escutar sonhos permite acompanhar o modo como o psiquismo tenta sobreviver. Isso mostra que o sonho é mais do que uma fantasia: é uma estratégia psíquica vital.
Evitando interpretações reducionistas nos sonhos
Na formação psicanalítica, é comum que iniciantes se sintam tentados a buscar “dicionários de sonhos” ou significados fixos. No entanto, esse movimento, embora compreensível, é perigoso.
A função simbólica dos sonhos na psicanálise não está em encontrar “o que significa tal imagem”, mas sim em escutar o que o sonho diz para aquele sujeito, naquele momento da sua história.
Portanto, a interpretação deve sempre respeitar o tempo do analisando e o campo transferencial da escuta. Além disso, o analista precisa sustentar o não saber e confiar na associação livre como método.
Considerações finais sobre a função simbólica dos sonhos
Sonhar é humano. E escutar sonhos é arte e técnica. Dessa forma, o sonho se torna uma ponte entre o inconsciente e a possibilidade de elaboração simbólica.
Para o psicanalista, compreender a função simbólica dos sonhos na psicanálise é essencial para acessar o inconsciente e ajudar o sujeito a construir novas formas de simbolizar o que o afeta.
Não se trata de dar respostas prontas. Pelo contrário, é necessário abrir espaço para que o desejo fale, ainda que através da linguagem onírica.
Todo sonho merece escuta. E toda escuta pode transformar.