Iniciar atendimentos clínicos é um dos momentos mais desafiadores e emocionantes na formação de um psicanalista. A expectativa, a insegurança, o desejo de “acertar” e o medo de “falhar” costumam se misturar. No entanto, antes de tudo, é fundamental lembrar: a clínica é um lugar de escuta, não de perfeição. Neste artigo, reunimos 7 dicas essenciais para psicanalistas iniciantes, que vão muito além da primeira sessão e tocam em aspectos fundamentais da prática.
Para aprofundar o tema da primeira escuta, leia também: Primeira sessão na clínica psicanalítica
1. Psicanalistas iniciantes devem confiar no tempo da escuta
É comum querer preencher o silêncio com perguntas, conselhos ou interpretações. Contudo, a escuta psicanalítica exige tempo e suspensão do julgamento. O silêncio do paciente é material clínico. Por isso, permita que ele fale no seu tempo. Escutar é mais do que ouvir: é sustentar o que é dito e o que não é dito. Portanto, mantenha a escuta ativa mesmo quando o silêncio predomina.
2. Evite a ansiedade de interpretar como psicanalista iniciante
A vontade de mostrar que “entendeu” o paciente pode levar o iniciante a interpretar cedo demais. No entanto, Freud nos ensina que a interpretação deve ser oportuna e econômica. Sendo assim, espere que a associação livre traga elementos. Intervir sem timing pode interromper processos que estavam em construção. Além disso, interpretar cedo demais pode gerar resistência e afastamento.
3. Psicanalistas iniciantes devem cuidar do seu setting analítico
O espaço é também discurso. A forma como você organiza sua sala, sua postura, os objetos ao redor, tudo comunica. Portanto, manter um setting estável e coerente ajuda o paciente a se localizar e favorece a transferência. Mudanças constantes ou ambientes improvisados podem gerar ruídos simbólicos. Por conseguinte, manter uma rotina simbólica fortalece a segurança do vínculo.
4. Supervisão não é opcional: é essencial na jornada do psicanalista iniciante
Levar casos para supervisão é parte fundamental da prática psicanalítica. Não se trata de buscar “respostas certas”, mas sim de elaborar a escuta, os atravessamentos contratransferenciais e os efeitos da clínica em si. Todo psicanalista precisa ter um outro com quem pensar o caso. Além disso, ouvir outro ponto de vista fortalece sua prática clínica. Consequentemente, o profissional desenvolve um olhar mais ético e preciso.
5. Psicanalistas iniciantes não devem se cobrar saber tudo
A formação é um processo sem fim. Mesmo analistas experientes continuam estudando, sendo supervisionados e em análise. Logo, se você ainda se sente inseguro, está no caminho certo. É justamente a dúvida que te mantém em movimento. Na psicanálise, não saber pode ser mais produtivo que supor saber. Além do mais, esse não-saber abre espaço para a escuta genuína.
6. Cuide de você para cuidar do outro na prática clínica
A clínica nos atravessa. Histórias de dor, traumas, repetições… tudo isso nos toca. Estar em análise pessoal não é luxo, é estrutura. Sustentar a escuta do outro exige estar em contato com seu próprio inconsciente. Caso contrário, os ruídos transferenciais podem ocupar o lugar da escuta. Por conseguinte, o autocuidado torna-se indispensável. Ademais, cuidar de si é também um ato ético na clínica.
7. Construa sua própria clínica psicanalítica
Você pode se inspirar em seus mestres. Entretanto, é fundamental encontrar seu estilo clínico, sua maneira de escutar, sua forma de sustentar a transferência. A psicanálise não se ensina como uma técnica fixa. Ela se transmite na escuta, na experiência e no desejo que sustenta sua prática. Com o tempo, sua clínica será única. Além disso, respeitar seu estilo é respeitar também a singularidade do sujeito.
Extra: Utilize recursos contemporâneos para fortalecer sua prática
Hoje, muitos psicanalistas iniciantes contam com recursos digitais que facilitam a rotina clínica. Por exemplo, usar uma agenda online, organizar anotações com segurança e assistir a conteúdos formativos são formas de se manter atualizado. Portanto, integrar a tecnologia com consciência pode ser um diferencial. Além disso, esse cuidado mostra preparo e profissionalismo.
✨ Conclusão
Ser psicanalista iniciante não é sinal de fragilidade, é sinal de abertura. Quanto mais você puder escutar, supervisionar, estudar e analisar-se, mais ético e potente será seu trabalho clínico. Em outras palavras, a formação acontece na travessia, não no destino.
A clínica não se decora. Ela se constrói no corpo, na escuta e na transferência.
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