Na formação em psicanálise, muitas vezes nos concentramos nos conceitos, nos textos clássicos, nos seminários teóricos. Mas e o corpo? Onde entra o corpo na escuta do inconsciente? A articulação entre corpo e subjetividade na psicanálise é um convite a sair da teoria e escutar o que pulsa, o que transpira, o que treme. É um desafio à formação tradicional e uma porta para uma clínica mais viva.
O corpo como lugar de inscrição do sujeito
A psicanálise sempre entendeu o corpo como mais do que um organismo biológico. Para Freud, o corpo é onde a pulsão se manifesta. Para Lacan, o corpo é simbólico, imaginário e real. Portanto, o corpo na psicanálise é lugar de linguagem, de gozo, de excesso. É onde o inconsciente se encarna.
A histéria, por exemplo, não é uma linguagem do corpo? Um corpo que fala onde o sujeito não pode? Escutar o corpo é escutar o sintoma em sua dimensão mais direta.
O sintoma que se inscreve na carne
Quantas vezes o paciente fala pouco, mas seu corpo diz tudo? A mão trêmula, o olho que não sustenta o olhar, a postura curvada, a voz embargada. Tudo isso é discurso. Tudo isso é inconsciente.
O corpo e subjetividade na psicanálise se entrelaçam no sintoma. Por isso, uma escuta sensível ao corpo permite intervenções mais afinadas com o desejo do sujeito.
Práticas corporais como recurso simbólico
Não se trata de aplicar yoga ou dança na sessão, mas de reconhecer que certas práticas corporais podem auxiliar na escuta psicanalítica. Atividades como biodança, respiração consciente ou meditação podem abrir o corpo para o simbólico.
Quando o sujeito retoma contato com o corpo, também retoma partes de si esquecidas, recalcadas. O corpo reativa memórias que a palavra ainda não nomeou.
Corpo do analista em cena: presença e escuta
A forma como o analista ocupa a poltrona, o modo como cruza as pernas, a expressão facial diante de uma associação: tudo comunica. A transferência também passa pelo corpo.
Por isso, o corpo do analista precisa estar incluído na formação. Escutar o paciente é também escutar as ressonâncias corporais que ele provoca em quem escuta.
Corpo e subjetividade nos tempos atuais
Em um mundo hiperconectado e cada vez mais ansioso, o corpo foi se tornando ausente. Vivemos em telas, em prazos, em tensões constantes. Por isso, não é por acaso que crescem os quadros de ansiedade, insônia, dores crônicas e transtornos psicossomáticos.
O corpo cobra aquilo que a palavra não consegue elaborar. Nesse sentido, escutar o corpo é também fazer uma clínica do real.
O evento “Corpos em Movimento” e os atravessamentos clínicos
Eventos como o Corpos em Movimento 2025 têm destacado a importância da corporeidade na escuta psicanalítica. Ali, o corpo é reconhecido como agente de subjetivação, não apenas como receptáculo.
Essas discussões são cruciais para ampliar a visão da clínica e oferecer ao futuro analista um repertório sensível e potente.
Corpo e arte: passagens simbólicas
A arte é uma forma de escutar o corpo. Na pintura, na dança, na performance, o corpo se torna linguagem. Por isso, pensar a relação entre arte e psicanálise é abrir caminho para que o sintoma se simbolize por outras vias.
Para aprofundar esse ponto, leia: Arte, psicanálise e a saída da fantasia
A escuta que acolhe o corpo
Não se trata de tornar a psicanálise uma terapia corporal. Mas sim de acolher o corpo como parte da escuta. O inconsciente não está apenas na palavra: ele também escorre pelo gesto, pelo choro, pelo silêncio cheio de tensão muscular.
Formar-se analista é também formar-se para escutar esse corpo que fala mesmo quando cala.
Conclusão
O corpo e a subjetividade na psicanálise não são opostos, mas dimensões complementares do mesmo enigma. Quem deseja se formar como psicanalista precisa aprender a escutar o que o corpo fala, mesmo que em silêncio.
Escutar o corpo é abrir-se ao que escapa do controle, ao que pulsa fora da palavra. E é justamente ali que mora o inconsciente.
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