O alcoolismo, considerado uma das formas mais prevalentes de dependência, é um tema recorrente nos consultórios de psicanalistas. Mas você já se perguntou como a psicanálise interpreta o uso abusivo de álcool? Quais são os mecanismos inconscientes que estão por trás desse comportamento repetitivo, muitas vezes autodestrutivo? Neste artigo, vamos explorar os aspectos psíquicos do alcoolismo, sua relação com o inconsciente, com o superego punitivo, e os caminhos de tratamento a partir da escuta analítica.
O Que Está Por Trás do Alcoolismo?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 283 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas por transtornos relacionados ao álcool. No Brasil, os dados indicam que aproximadamente 15% da população adulta apresenta comportamentos considerados de risco em relação ao consumo de bebidas alcoólicas.
Mas o que está por trás do alcoolismo sob a lente da psicanálise? Freud, em seus estudos sobre o prazer e a repetição, apontou que o sintoma tem função. O uso de álcool pode surgir como uma forma de lidar com a angústia, um modo de tentar calar um conflito interno que o sujeito não consegue elaborar conscientemente.
Alcoolismo e Superego: Autoexigência e Culpa
Você sente que muitas vezes recorre ao álcool após momentos de excesso de cobrança ou sentimentos de culpa? A psicanálise entende que o superego punitivo é um dos grandes motivadores do sofrimento psíquico.
Como Freud indicava, o superego pode ser cruel. Ele reprime, cobra, exige e, quando o ego falha, castiga. O uso do álcool entra, muitas vezes, como tentativa de anestesia emocional. O sujeito bebe para silenciar essa voz interna impiedosa.
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O Que a Psicologia Diz Sobre o Alcoolismo?
A psicologia clínica compreende o alcoolismo como um transtorno multifatorial. Fatores genéticos, ambientais, traumas de infância e transtornos mentais associados, como depressão e transtornos de ansiedade, são frequentemente relatados.
Contudo, a psicanálise vai além da causa objetiva: ela busca compreender a função subjetiva do álcool para o sujeito. O que o alcoolismo “resolve” no mundo interno dessa pessoa? O que ele encobre, protege ou repete?
Como a Psicanálise Trata o Alcoolismo?
O tratamento psicanalítico não visa apenas a abstinência. Ele busca promover um processo de simbolização: o sujeito precisa dar sentido ao seu sofrimento, reconhecer suas angústias recalcadas, reencontrar-se com seu desejo.
Em um processo analítico bem conduzido, o indivíduo é convidado a falar livremente, sem julgamento. Aos poucos, vai-se construindo um espaço de escuta onde é possível reconhecer os mecanismos que mantêm a dependência.
Estudos e Dados Recentes
Uma pesquisa publicada pela American Journal of Psychiatry em 2022 mostrou que abordagens baseadas em escuta ativa e compreensão simbólica têm maior taxa de adesão a longo prazo do que programas focados apenas em abstinência.
O Que Fazer se Você Atende um Paciente Alcoólatra?
- Crie um espaço de escuta livre de julgamentos
- Reconheça o sintoma como uma tentativa de solução subjetiva
- Investigue as fantasias inconscientes ligadas ao uso de álcool
- Traga o paciente a falar sobre sua história de repetições
- Esteja atento aos mecanismos de defesa como negação e projeção
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Considerações Finais
A relação entre alcoolismo e psicanálise é uma via de compreensão profunda da dor psíquica. Não se trata de rotular ou curar rapidamente, mas de acolher o sujeito em sua totalidade, reconhecendo a função simbólica do sintoma.
O álcool pode ser uma defesa, mas também um pedido de ajuda. E, muitas vezes, o que o sujeito precisa é ser escutado, verdadeiramente escutado.