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Adolescência Netflix psicanálise: uma leitura profunda da juventude

Cena da série Adolescência da Netflix ilustrando o conflito psíquico da juventude moderna sob o olhar da psicanálise

A série “Adolescência”, lançada pela Netflix, tornou-se um fenômeno internacional ao expor as complexidades da vida adolescente em meio ao caos social e digital. Mais do que um drama criminal, a obra nos convida a uma imersão profunda nas estruturas psíquicas dos sujeitos em formação. Por isso, neste artigo, vamos analisar os principais temas da Adolescência Netflix psicanálise, entendendo como o inconsciente, o desejo, o recalque e a culpa atravessam os personagens e suas relações.

A psicanálise e a adolescência: uma fase de transição psíquica

Para a psicanálise, a adolescência é um momento de ruptura e reconstrução simbólica. É quando o sujeito precisa se separar do ideal da infância para ocupar um novo lugar no desejo — próprio e do Outro. O corpo muda, os laços sociais se reconfiguram e a pergunta “Quem sou eu para o desejo do outro?” torna-se central.

Jamie Miller, protagonista da série, está mergulhado nesse conflito. Aos 13 anos, já é convocado pela cultura a ser “homem”, a performar virilidade, mas sem ainda ter ferramentas simbólicas para lidar com as exigências impostas. Portanto, é nesse ponto de transição que os conflitos emergem com mais força.

O impacto da narrativa contínua: angústia sem cortes

A escolha da série por planos-sequência — episódios gravados sem cortes visíveis — tem um efeito psicanalítico importante. Isso acontece porque ela impede o recalque momentâneo da angústia. Assim, somos forçados a permanecer na cena, sem distrações, como em uma sessão de análise onde o sujeito não pode fugir de sua própria fala.

Esse tipo de narrativa aproxima o espectador do real lacaniano — aquilo que escapa à simbolização. Dessa forma, o desconforto que sentimos ao assistir Adolescência Netflix psicanálise não é apenas empatia: é identificação com os fragmentos psíquicos projetados na tela.

Masculinidade tóxica e o gozo da performance viril

Jamie vive sob o olhar do pai e da cultura que cobra dele uma masculinidade idealizada. Segundo a teoria lacaniana, o pai representa a Lei e a entrada no simbólico. No entanto, o pai de Jamie é frágil, ausente simbolicamente. Por isso, o adolescente se vê entregue à lógica do supereu cruel, que exige performance constante e gozo na violência, no domínio e na humilhação.

A masculinidade tóxica, então, não é apenas um comportamento social aprendido — é também uma estrutura de gozo sustentada pela falta de escuta e empatia.

Bullying como retorno do recalcado

Na escola, Jamie é alvo de humilhações constantes. O bullying, nesse contexto, aparece como expressão de pulsões agressivas que os próprios adolescentes não conseguem simbolizar. Eles atacam no outro o que não suportam em si mesmos.

Essa repetição de violências indica uma estrutura de repetição neurótica: o sujeito se vê preso a uma cena traumática que não consegue elaborar. Em outras palavras, é a atualização contínua de uma ferida psíquica que não cicatriza.

As redes sociais como espelho do ideal do eu

De acordo com Freud e Lacan, o sujeito é formado pela imagem. No caso da geração digital, essa imagem é mediada por filtros, curtidas e algoritmos. O Instagram e o TikTok funcionam como espelhos alienantes, reforçando ideais inalcançáveis e ampliando o sentimento de inadequação.

Jamie busca validação nas redes, mas encontra apenas o desmentido do desejo: aquilo que o Outro exige dele, mas que nunca é suficiente. O efeito disso é o apagamento do sujeito, que se dissolve na tentativa de se adaptar ao olhar do Outro. Ou seja, ele abdica de si mesmo em troca de pertencimento.

Alienação e a função paterna ausente

Na clínica psicanalítica, a alienação é o primeiro momento da constituição do sujeito. A criança se constitui a partir da resposta do Outro — geralmente os pais. Quando essa resposta é falha, como no caso dos pais de Jamie, o sujeito se perde.

A mãe de Jamie tenta proteger, mas é capturada pela culpa. O pai tenta corrigir, mas é agressivo e emocionalmente indisponível. Ambos falham na função simbólica de nomear, de ordenar, de sustentar o desejo do filho.

Como resultado, Jamie não encontra um lugar onde possa se representar simbolicamente. Ele age — e no agir, rompe com o simbólico.

A culpa como estrutura subjetiva

Freud nos ensina que a culpa é o sentimento que acompanha a transgressão da Lei. Jamie, ao ser acusado de assassinato, entra em contato com essa culpa — mas não apenas pelo ato em si. Na verdade, a culpa que o atravessa vem de toda a cadeia de desejos, silêncios e omissões que o levaram até ali.

A culpa de Jamie também é a culpa dos pais, da escola, da sociedade. No entanto, ele a encarna de forma radical. Como um paciente que, ao não encontrar palavra, atua o sintoma, Jamie age. E nesse agir, denuncia o fracasso do laço social.

A família disfuncional e o colapso do simbólico

A família de Jamie é marcada pela ausência de escuta. Ninguém fala com profundidade, e o afeto é confundido com controle. Dessa maneira, a casa, que deveria ser espaço de acolhimento simbólico, torna-se espaço de silenciamento e vigilância.

Para a psicanálise, a família é o primeiro teatro do desejo. Quando esse teatro é desfeito, resta ao sujeito a atuação. A violência é, então, uma tentativa desesperada de romper com o silêncio.

A função do analista: o lugar de escuta no laço social

Ao assistirmos à série Adolescência Netflix psicanálise, perguntamo-nos: onde está o analista? Onde está aquele que escuta sem julgar, que permite ao sujeito falar de seu gozo, de sua dor, de sua culpa?

“Adolescência” nos mostra uma juventude carente de escuta. A ausência de um lugar simbólico de acolhimento é o que torna o sintoma tão brutal. Portanto, não se trata apenas de psicopatologia individual, mas de um sintoma social.

Conclusão: o que a psicanálise tem a dizer

Adolescência“, quando vista pelo olhar da psicanálise, é um retrato pulsante do sujeito em colapso. Mas também é um chamado. Um convite à escuta, à elaboração simbólica, à nomeação da dor.

A juventude retratada na série não é fraca ou perdida — ela é sintomática. E como todo sintoma, pede interpretação. Que esse artigo possa ser uma tentativa de colocar em palavras aquilo que a imagem nos deixou atravessar.

Se você é profissional da clínica, educador ou familiar de adolescentes, reflita sobre o que você tem escutado. Não espere que o sintoma se atue. Ofereça escuta, antes que o grito precise ser sangrado.
Recomendado: Livro “Resgatando a autoridade parental”

Artigo: Violência estética e impacto psíquico

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